ACADEMIA MAÇÔNICA DE
LETRAS DO BRASIL - ARCÁDIA BELO HORIZONTE
Arcádia (segundo o dicionário
Aurélio):
[Do top. Arcádia, região da
antiga Grécia muitas vezes escolhida como cenário da poesia bucólica.]
Substantivo feminino
1.
Sociedade literária típica da última fase do
classicismo, cujos membros adotavam nomes poéticos simbólicos, a primeira das
quais se fundou em 1690, tendo havido muitas outras no século XVIII, como p.
ex., a Arcádia Lusitana e a Nova Arcádia.
Arcadismo
Resumo
O Arcadismo,
também conhecido como Neoclassicismo, caracteriza-se pela busca de restauração
dos ideais de sobriedade e equilíbrio da antiguidade clássica em contraposição aos
excessos do período anterior, o Barroco. O movimento é contemporâneo do
Iluminismo, corrente de pensamento racionalista que se divulgou pela Europa no
século XVIII e que culminou com a Revolução Francesa, em 1789. Associações de
letrados como a Arcádia Romana e, mais tarde, a Arcádia Lusitana foram veículos
importantes para a propagação do ideário do movimento na Europa. O nome
"Arcádia" é inspirado na região lendária da Grécia que representa o
ideal de comunhão entre homem e natureza, daí o Arcadismo ter como tema
privilegiado o bucolismo, em que a natureza é vista como refúgio último das noções
de verdade e beleza.
No Brasil,
os poetas que melhor representam o movimento são Cláudio Manuel da Costa e
Tomás Antônio Gonzaga, autor de Marília de Dirceu. Ambos participaram da
Inconfidência Mineira, movimento político que visava a emancipação do Brasil em
relação a Portugal. Os poemas laudatórios de Basílio da Gama e a produção
poética de Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga também apresentam traços típicos
do Arcadismo. Todos esses poetas concentravam-se na cidade mineira de Vila
Rica, centro da atividade mineradora e mais importante centro urbano do país
nesse período. No Rio de Janeiro, nos anos de transição entre os séculos XVIII
e XIX, entre uma série de novidades de ordem política e econômica que começam a
transformar a fisionomia do país, verifica-se o surgimento de diversos órgãos
de imprensa. Nesse momento tardio do Arcadismo, têm destaque as figuras dos jornalistas
Hipólito da Costa, fundador do jornal Correio Brasiliense, e Evaristo da Veiga,
cronista político do Aurora Fluminense.
Contexto
No Brasil, o
século XVIII é considerado o século do ouro, graças à intensa atividade de extração
mineral que se desenvolveu na região de Minas Gerais. A prosperidade econômica do
período estimulou a organização política, administrativa e dinamizou a vida
cultural. A maior agilidade na troca de informações favoreceu a formação de uma
consciência comum, de um sentimento nacional que, na literatura, começa aos
poucos a substituir o impulso de descrição da natureza e do nativo, dominante
até então. Pela primeira vez, é possível verificar no país uma relação
sistemática, ainda que incipiente, entre escritor, obra e público, condição
fundamental para a formação de uma literatura, conforme ensina o crítico
Antonio Candido. O impulso de intelectuais e artistas de se reunirem em academias
e sociedades literárias contrapõe-se ao isolamento dos períodos anteriores, em
que os escritores se encontravam dispersos, as obras mal circulavam no interior
do país, dirigindo-se primordialmente para leitores portugueses.
A Europa
vivia a efervescência do Iluminismo e transformava-se num pólo irradiador de idéias
libertárias. Ao mesmo tempo, chegavam ao Brasil as primeiras notícias sobre a independência
dos Estados Unidos, conquistada em 1776. Todos esses fatores, associados à insatisfação
generalizada com a exploração de Portugal, que se traduzia no aumento dos impostos
sobre a extração de minérios, culminaram na Inconfidência Mineira, preparada
por um pequeno grupo de letrados, muitos deles ex-estudantes da Universidade de
Coimbra, onde entraram em contato com as novas idéias e doutrinas políticas. Em
sua maior parte, Enciclopédia Itaú Cultural de Literatura Brasileira onde
entraram em contato com as novas idéias e doutrinas políticas. Em sua maior
parte, esse grupo de oposição política era o mesmo que produzia ciência e
literatura na época.
O marco
inicial do estilo árcade no Brasil é a publicação de Obras, de Cláudio Manuel
da Costa, em 1768. Sob influência de teorias francesas e italianas, os
integrantes do movimento empenharam-se em restaurar a simplicidade da língua
literária, que estaria contaminada por excessos retóricos e por formas
degeneradas da literatura barroca. O nome Arcadismo é uma alusão à Arcádia
Lusitana, associação fundada em 1756 em Portugal que congregava os opositores
do maneirismo seiscentista. Inspirada na Arcádia Romana, criada em Roma em
1690, ela também remonta ao romance pastoral Arcádia (1504), do escritor italiano
Jacopo Sannazaro. A obra retrata uma lendária região grega chamada Arcádia.
Dominada
pelo deus Pã, ela seria habitada por pastores cujo modo de vida bucólico e devotado
à poesia foi transformado pelos neoclássicos em modelo ideal de convivência entre
o homem e a natureza. Daí o fato de os escritores da época denominarem-se
pastores e adotarem pseudônimos poéticos, como Glauceste Satúrnio (Cláudio
Manuel da Costa), Alcindo Palmireno (Silva Alvarenga) e Termindo Sepílio
(Basílio da Gama).
Com o
propósito de restabelecer o equilíbrio da produção poética, autores do século
XVIII empenharam-se na elaboração de manuais que recuperavam regras e padrões
do Renascimento, por sua vez consolidados com base em formulações clássicas,
principalmente de pensadores como Horácio e Aristóteles. Entre os mais
importantes destacam-se o francês Nicolas Boileau, autor da Arte Poética, e o
espanhol Luzán, cuja obra central é Poética. Em língua portuguesa, os
principais doutrinadores do arcadismo foram Luís Antônio Verney, autor do
Verdadeiro Método de Estudar (1747), e Francisco José
Freire, que escreveu Arte Poética (1748).
Dos escritos
desses doutrinadores, derivam duas idéias que contribuem para esclarecer parte da
produção poética do século XVIII. A primeira é a idéia de que o poeta não é um
sujeito em busca de meios para expressar sua subjetividade, e sim um artífice
valorizado pela capacidade de pôr seu conhecimento técnico a serviço de uma
causa externa. A segunda, a noção de utilidade da poesia, ou seja, a noção de
que ela engrandece à medida que louva, descreve e propaga a verdade, verdade
esta que se confundia com os interesses do estado.
Estilo
(características gerais)
Os antigos
escritores gregos e romanos sintetizam o ideal de harmonia que os autores do período
buscavam resgatar. Por isso eles também são conhecidos como neoclássicos. Tida como
reduto por excelência do equilíbrio e da sabedoria, a natureza é a temática
mais freqüente do Arcadismo. Em grande medida, é possível dizer que a poesia
arcádica caracteriza-se por essa busca pelo "natural", ao qual
estavam sempre associadas às idéias de verdade e de beleza.
Apesar de ter
sido influenciada pela tradição poética do século XVI, cujo nome mais importante
é Camões, e de apresentar resquícios do Barroco em certos casos, a poesia arcádica
é um modelo de simplicidade e objetividade, se comparada com as obras do período
anterior. Exemplos dessa simplificação da linguagem são a valorização da ordem direta,
o verso sem rima, a singeleza do vocabulário e a menor incidência de
comparações e antíteses - todos os fatores identificáveis na produção poética
do Arcadismo.
Essa
liberdade formal, no entanto, era regida por normas consolidadas e formatos
fixos que só começariam a afrouxar a partir do Romantismo. O soneto, por
exemplo, era uma das formas mais empregadas, como se pode perceber pela obra de
Cláudio Manuel da Costa.
Também bastante
utilizados eram a ode (composição poética dividida em estrofes Enciclopédia
Itaú Cultural de Literatura Brasileira também bastante utilizados eram a ode
(composição poética dividida em estrofes simétricas, para ser cantada), a
elegia (poesia sobre tema fúnebre) e a écloga (poesia
pastoril).
Sem perder a
impregnação religiosa nem o respeito à monarquia, os poetas do período abordaram
assuntos mais imediatos e concretos do que seus antecessores. Fazem parte de seu
universo temático o elogio da virtude civil, a crença na melhoria do homem pela
instrução, a noção de que a harmonia social depende da obediência às leis da
natureza, e a concepção da felicidade como conseqüência da prática do bem e da
sabedoria. Todas essas idéias, em grande medida derivadas do Iluminismo,
encontram expressão política na figura do Marquês de Pombal.
Secretário
do rei D. José I, Pombal é a face portuguesa do "despotismo
esclarecido" que vigorou em certos países da Europa nos séculos XVII e
XVIII. Ele promoveu a reforma do ensino na Universidade de Coimbra, a
reconstrução da cidade de Lisboa após o terremoto de 1755 e a expulsão dos
jesuítas do território da coroa portuguesa. Também foi o maior mecenas das
artes do período, o que justifica o apoio de poetas do Arcadismo à sua causa. É
difícil compreender um poema como O Uraguai, por exemplo, longe desse contexto.
Nessa obra épica, Basílio da Gama louva a política da coroa portuguesa de
combate aos jesuítas, que são retratados de maneira impiedosa. Também O
Desertor, de Silva Alvarenga, foi composto com o propósito único de cantar loas
à reforma do ensino empreendida por Pombal.
O iluminismo
pombalino caracterizou também a prosa do período. Ela se manifestava nas formas
de sermões, discursos, panfletos e ensaios de jornal. Os escritos teóricos e científicos,
em sua maioria produzidos em Portugal sob os auspícios do Marquês, também tiveram
influência durante o Arcadismo, como atestam os manuais de poesia de Verney e Freire
e os textos sobre a reforma educacional escritos por autores como Antonio Nunes
Ribeiro Sanches. A prosa literária, no entanto, atingiu pouca expressão. Uma
razão para isso é o fato de que a poesia era então considerada um meio adequado
para a discussão de idéias de interesse público. Assim, diversos autores do
período manifestaram-se sobre ciência, educação, filosofia, política ou até
temas técnicos, como zoologia e mineração, em textos
versificados.
Autores
Os
principais cronistas do Arcadismo no Brasil pertencem a um período tardio do movimento.
Eles realizaram seus trabalhos já no limiar do século XIX. Nessa época, em especial
depois da chegada da família real ao Rio de Janeiro, em 1808, tinha início um processo
profundo de transformação da sociedade brasileira que, no plano cultural, iria desembocar
no Romantismo. Dois nomes têm destaque nesse momento: Evaristo da Veiga e Hipólito
José da Costa. Poeta, livreiro e deputado, Veiga fundou o jornal Aurora Fluminense,
onde escreveu a crônica política do período. Autor da letra do primeiro hino
nacional brasileiro, que mais tarde se tornaria o Hino à Independência,
Evaristo da Veiga é considerado o primeiro jornalista brasileiro. Costa, por
sua vez, foi o fundador do Correio Brasiliense. Primeiro grande jornal da
imprensa brasileira, o Correio era um espaço de divulgação de idéias
iluministas e de estudos sobre questões nacionais. Editado em Londres entre
1808 e 1823, o jornal teve papel fundamental para a emancipação política do
Brasil.
Segundo o
crítico Alfredo Bosi, Veiga e Costa foram responsáveis pela criação do molde brasileiro
da prosa jornalística de idéias e desempenharam papel decisivo para a formação
de um público leitor no país.
Enciclopédia
Itaú Cultural de Literatura Brasileira é na obra dos poetas, no entanto, que se
manifestam os traços mais característicos do Arcadismo. O poeta mais importante
do Arcadismo português é Manuel Maria Barbosa Du Bocage. Mais conhecido pelos
poemas satíricos, ele também praticou poesia lírica. Embora no início tenha
escrito de acordo com as convenções do Arcadismo, no fim da vida produziu
versos que não cabem nos moldes do movimento. Essa fase de sua obra é considerada
pelos críticos como pré-romântica. No Brasil, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio
Gonzaga e Alvarenga Peixoto tiveram participação marcante tanto na literatura quanto
nas questões políticas de seu tempo. Em contexto diverso, Basílio da Gama,
Silva Alvarenga e frei Santa Rita Durão são os outros autores que, ao lado
deles, produziram as obras mais significativas do período.
Entre os
membros do grupo mineiro, foi Cláudio Manuel da Costa quem exprimiu com mais clareza
os modelos arcádicos. É em sua obra que o lirismo pastoral, marca definidora da
poesia do período, apresenta-se com mais nitidez. Para o crítico Antonio
Candido, o melhor da produção de Cláudio Manuel da Costa está nas Obras, em que
o culto dos modelos clássicos alia-se a uma requintada sonoridade e a uma
consciência nítida dos problemas de seu tempo, além de referências constantes
ao cenário rochoso de Minas Gerais, como no Soneto VIII [Este é o rio, a
montanha é esta]. Outro traço característico de sua obra é a vibração política,
também presente nas Cartas Chilenas, de Gonzaga.
Quanto a
Tomás Antônio Gonzaga, é possível dizer que foi o autor da lírica amorosa mais popular
da literatura de língua portuguesa. Trata-se do poema Marília de Dirceu,
dividido em liras que a partir da publicação do poema em livro, em 1792, foram
declamadas, musicadas e cantadas em serestas e saraus pelo Brasil afora. Referindo-se
à lira III da parte III, Manuel Bandeira escreveu: "Nessa lira esqueceu o Poeta a paisagem
e a vida européia, os pastores, os vinhos, o azeite e as brancas ovelhinhas,
esqueceu o travesso deus Cupido, e a sua poesia reflete com formosura a
natureza e o ambiente social brasileiro, expressos nos termos da terra com um
fino gosto que não tiveram seus precursores". Gonzaga foi o poeta do
Arcadismo que levou mais adiante em seus versos a expressão de uma
individualidade em conflito, de certo modo abrindo caminho para os arroubos
dilacerados da poesia romântica. Além de O Uraguai, os outros dois poemas
épicos importantes do período são O Caramuru, de Santa Rita Durão, e Vila Rica,
de Cláudio Manuel da Costa. O primeiro é uma imitação de Os Lusíadas que retoma
motivos de louvor da natureza do Brasil e tem importância histórica pela
riqueza de elementos com que descreve o indígena. O segundo, um poema de exaltação
à cidade mineira igualmente lembrado por seu caráter documental. Alvarenga Peixoto
e Silva Alvarenga, outros poetas relevantes da época, deixaram uma obra marcada
pela crítica política e nativismo, no primeiro caso, e pela variedade formal e
leveza rococó, no segundo. D e maneira geral, ainda de acordo com Antonio
Candido, é possível dizer que a importância dos poetas arcádicos reside no
"esforço de trazer à pátria os temas e as técnicas mentais e artísticas do
ocidente europeu, dando à nossa literatura um alcance potencialmente universal,
antes mesmo que ela tomasse consciência de sua individualidade nacional."
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